O MITO E A MENTIRA DE MADRE TEREZA DE CALCUTÁ
Texto de Anne Christine Rodrigues Mendes – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 15 – Outubro/2013
Para Madre Teresa de Calcutá, se todos os cristãos seguirem à risca e cumprirem o significado do sofrimento e da dor estarão a salvo no reino dos céus
“Há algo de belo em ver os pobres aceitarem sua sina e de sofrerem tal como Jesus Cristo. O mundo ganha muito com seu sofrimento”. Essa frase é polêmica. Quem a citou foi Tereza de Calcutá, considerada uma das últimas santas pela Igreja Católica de Roma. Com esse e muitos outros posicionamentos dela, a realidade atual enterra de vez o mito de altruísmo e generosidade que acompanhou o desenrolar da vida dessa mulher.
Tudo foi construído e falsificado pelos cardeais da Igreja no que tange à vida e aos escritos publicados no nome de madre Tereza de Calcutá. Como sempre a força do poder religioso cria e recria imagens e ditos falsos. Fato que vem desde priscas eras, quando a lenda de um crucificado foi criada e divulgada para o mundo. Tal como deve ter ocorrido com tantos outros ditos santos e mártires, a beatificação de Tereza de Calcutá foi orquestrada por uma eficiente campanha de assessoria de imprensa.
O Vaticano durante o processo de beatificação de Madre Teresa jamais levou em consideração, como bem salientou o professor Serge Larivée, estudioso de sua vida, “o jeito dela um tanto quanto duvidoso de cuidar dos doentes, seus contatos políticos questionáveis, a administração suspeita das enormes quantias de dinheiro que recebeu e suas visões excessivamente dogmáticas em relação a, particularmente, o aborto, a contracepção e o divórcio.”
“Enquanto procurávamos documentos sobre o fenômeno do altruísmo para um seminário de ética, um de nós deparou-se com a vida e o trabalho da mulher mais celebrada da Igreja Católica, hoje parte da nossa imaginação coletiva – Madre Teresa – cujo nome real era Agnes Gonxha”, diz o professor Larivée, que liderou a pesquisa. “A descrição atiçou nossa curiosidade e nos levou a pesquisar mais a fundo.”
O estudo do pesquisador e de seus companheiros derruba o mito de Madre Teresa. Ele observou que na época de sua morte, Madre Teresa já tinha aberto e inaugurado 517 missões que acolhiam pobres e doentes em mais de 100 países. Essas missões foram descritas como “casas para os mortos” por médicos que visitaram diversos desses estabelecimentos em Calcutá. De acordo com o professor Larivée, dois terços das pessoas que iam a essas missões tinham esperança de encontrar um médico para tratá-las, enquanto um terço agonizava sem receber o cuidado apropriado. Os médicos encontraram uma significativa falta de higiene, condições impróprias, falta de cuidado de fato, comida inadequada e ausência de analgésicos.
Porém, falta de assistência financeira não existia. A Fundação criada por Madre Teresa arrecadou milhões de dólares, mas tinha como lema peculiar a forma de tratar os doentes como se o sofrimento e a morte fossem algo de santo, seguindo à risca a pregação bíblica do pretenso filho de seu deus. Para ela, se todos os cristãos seguirem à risca e cumprirem o significado do sofrimento e da dor estarão a salvo no reino dos céus, pois como ela bem salientou em entrevista ao jornalista Christopher Hitchens: “Há algo de belo em ver os pobres aceitarem sua sina”. Só que ela não seguiu a sina dos pobres quando adoeceu, pois solicitou cuidados paliativos e recebeu esses cuidados em um moderno hospital norte-americano.
Madre Teresa de Calcutá, realmente, foi uma mulher extremamente generosa com seus seguidores. Mas não foi generosa com os milhões de pobres e famintos que a procuravam, buscando acabar com seus sofrimentos na terra. Nunca ela ofereceu a esses milhões ajuda financeira direta ou indireta. Porém, jamais deixou de ofertar orações e medalhinhas da chamada Virgem Maria, aos flagelados das numerosas enchentes ocorridas na Índia, quando morreram milhares de seres humanos.
De acordo também com o professor Larivée, milhões de dólares foram transferidos para as suas mais diversas contas bancárias da OMS, mas a maioria das contas era mantida em segredo. Ele indaga: “Dada a administração parcimoniosa dos trabalhos de Madre Teresa, é de se perguntar para onde foram os milhões de dólares enviados para os pobres.”
Pergunto: como Madre Teresa de Calcutá conseguiu construir uma imagem de santidade e infinita bondade? De acordo com os pesquisadores, foi crucial o encontro que ela teve em 1968 com o jornalista antiaborto da BBC, Malcom Muggeridge, que compartilhava com seus valores de direita católica. Esse jornalista decidiu promover Madre Teresa e ela imediatamente descobriu o poder da mídia.
Madre Teresa viajou pelo mundo todo e recebeu diversos prêmios, incluindo o Nobel da Paz. No seu discurso de aceitação do prêmio, ela recitou sobre as mulheres da Bósnia que haviam sido estupradas pelos sérvios e que solicitavam o aborto. Disse: “O maior destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra contra a criança – um assassinato direto da criança inocente - assassinato pela própria mãe”.
Após a sua morte, o Vaticano decidiu beatificá-la. O milagre atribuído a ela foi a cura de uma mulher, Monica Besra, que vinha sofrendo de intensa dor abdominal. A mulher testemunhou ter sido curada depois que uma medalha abençoada por Madre Teresa foi posta em seu abdômen. No entanto, seus médicos negaram isso. Eles salientaram que o cisto no ovário e a tuberculose que essa mulher vinha sofrendo foram curados pelos medicamentos que eles haviam dado. O Vaticano passou por cima da palavra da ciência e concluiu que tinha ocorrido um milagre.
Realmente, a Igreja Católica continua seguindo os trâmites usuais que a norteiam, onde imperam a mentira e a hipocrisia, pois a popularidade de Madre Teresa era tamanha que ela tornou-se intocável para a população, que a declarou santa. O que pode ser melhor do que a beatificação seguida de canonização deste modelo para revitalizar a Igreja e inspirar os fiéis, especialmente em uma época em que as igrejas estão vazias e a santa autoridade romana em declínio?
Veja mais em: http://phys.org/news/2013-03-dispell-myth-altruism-generosity-mother.html#jCp
Texto de Anne Christine Rodrigues Mendes – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 15 – Outubro/2013
Para Madre Teresa de Calcutá, se todos os cristãos seguirem à risca e cumprirem o significado do sofrimento e da dor estarão a salvo no reino dos céus
“Há algo de belo em ver os pobres aceitarem sua sina e de sofrerem tal como Jesus Cristo. O mundo ganha muito com seu sofrimento”. Essa frase é polêmica. Quem a citou foi Tereza de Calcutá, considerada uma das últimas santas pela Igreja Católica de Roma. Com esse e muitos outros posicionamentos dela, a realidade atual enterra de vez o mito de altruísmo e generosidade que acompanhou o desenrolar da vida dessa mulher.
Tudo foi construído e falsificado pelos cardeais da Igreja no que tange à vida e aos escritos publicados no nome de madre Tereza de Calcutá. Como sempre a força do poder religioso cria e recria imagens e ditos falsos. Fato que vem desde priscas eras, quando a lenda de um crucificado foi criada e divulgada para o mundo. Tal como deve ter ocorrido com tantos outros ditos santos e mártires, a beatificação de Tereza de Calcutá foi orquestrada por uma eficiente campanha de assessoria de imprensa.
O Vaticano durante o processo de beatificação de Madre Teresa jamais levou em consideração, como bem salientou o professor Serge Larivée, estudioso de sua vida, “o jeito dela um tanto quanto duvidoso de cuidar dos doentes, seus contatos políticos questionáveis, a administração suspeita das enormes quantias de dinheiro que recebeu e suas visões excessivamente dogmáticas em relação a, particularmente, o aborto, a contracepção e o divórcio.”
“Enquanto procurávamos documentos sobre o fenômeno do altruísmo para um seminário de ética, um de nós deparou-se com a vida e o trabalho da mulher mais celebrada da Igreja Católica, hoje parte da nossa imaginação coletiva – Madre Teresa – cujo nome real era Agnes Gonxha”, diz o professor Larivée, que liderou a pesquisa. “A descrição atiçou nossa curiosidade e nos levou a pesquisar mais a fundo.”
O estudo do pesquisador e de seus companheiros derruba o mito de Madre Teresa. Ele observou que na época de sua morte, Madre Teresa já tinha aberto e inaugurado 517 missões que acolhiam pobres e doentes em mais de 100 países. Essas missões foram descritas como “casas para os mortos” por médicos que visitaram diversos desses estabelecimentos em Calcutá. De acordo com o professor Larivée, dois terços das pessoas que iam a essas missões tinham esperança de encontrar um médico para tratá-las, enquanto um terço agonizava sem receber o cuidado apropriado. Os médicos encontraram uma significativa falta de higiene, condições impróprias, falta de cuidado de fato, comida inadequada e ausência de analgésicos.
Porém, falta de assistência financeira não existia. A Fundação criada por Madre Teresa arrecadou milhões de dólares, mas tinha como lema peculiar a forma de tratar os doentes como se o sofrimento e a morte fossem algo de santo, seguindo à risca a pregação bíblica do pretenso filho de seu deus. Para ela, se todos os cristãos seguirem à risca e cumprirem o significado do sofrimento e da dor estarão a salvo no reino dos céus, pois como ela bem salientou em entrevista ao jornalista Christopher Hitchens: “Há algo de belo em ver os pobres aceitarem sua sina”. Só que ela não seguiu a sina dos pobres quando adoeceu, pois solicitou cuidados paliativos e recebeu esses cuidados em um moderno hospital norte-americano.
Madre Teresa de Calcutá, realmente, foi uma mulher extremamente generosa com seus seguidores. Mas não foi generosa com os milhões de pobres e famintos que a procuravam, buscando acabar com seus sofrimentos na terra. Nunca ela ofereceu a esses milhões ajuda financeira direta ou indireta. Porém, jamais deixou de ofertar orações e medalhinhas da chamada Virgem Maria, aos flagelados das numerosas enchentes ocorridas na Índia, quando morreram milhares de seres humanos.
De acordo também com o professor Larivée, milhões de dólares foram transferidos para as suas mais diversas contas bancárias da OMS, mas a maioria das contas era mantida em segredo. Ele indaga: “Dada a administração parcimoniosa dos trabalhos de Madre Teresa, é de se perguntar para onde foram os milhões de dólares enviados para os pobres.”
Pergunto: como Madre Teresa de Calcutá conseguiu construir uma imagem de santidade e infinita bondade? De acordo com os pesquisadores, foi crucial o encontro que ela teve em 1968 com o jornalista antiaborto da BBC, Malcom Muggeridge, que compartilhava com seus valores de direita católica. Esse jornalista decidiu promover Madre Teresa e ela imediatamente descobriu o poder da mídia.
Madre Teresa viajou pelo mundo todo e recebeu diversos prêmios, incluindo o Nobel da Paz. No seu discurso de aceitação do prêmio, ela recitou sobre as mulheres da Bósnia que haviam sido estupradas pelos sérvios e que solicitavam o aborto. Disse: “O maior destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra contra a criança – um assassinato direto da criança inocente - assassinato pela própria mãe”.
Após a sua morte, o Vaticano decidiu beatificá-la. O milagre atribuído a ela foi a cura de uma mulher, Monica Besra, que vinha sofrendo de intensa dor abdominal. A mulher testemunhou ter sido curada depois que uma medalha abençoada por Madre Teresa foi posta em seu abdômen. No entanto, seus médicos negaram isso. Eles salientaram que o cisto no ovário e a tuberculose que essa mulher vinha sofrendo foram curados pelos medicamentos que eles haviam dado. O Vaticano passou por cima da palavra da ciência e concluiu que tinha ocorrido um milagre.
Realmente, a Igreja Católica continua seguindo os trâmites usuais que a norteiam, onde imperam a mentira e a hipocrisia, pois a popularidade de Madre Teresa era tamanha que ela tornou-se intocável para a população, que a declarou santa. O que pode ser melhor do que a beatificação seguida de canonização deste modelo para revitalizar a Igreja e inspirar os fiéis, especialmente em uma época em que as igrejas estão vazias e a santa autoridade romana em declínio?
Veja mais em: http://phys.org/news/2013-03-dispell-myth-altruism-generosity-mother.html#jCp