Com grande alarido na mídia, acaba de ser laçado o livro “Borboletas e lobisomens”, de Hugo Studart, historiador, jornalista e professor. Em 658 páginas, ele aborda a Guerrilha do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na virada das décadas de 1960-1970 no Sul do estado do Pará, de um ponto de vista que mescla “imaginários” com informações atribuídas à institucionalidade do espectro do regime militar de 1964. “Trabalho com a hipótese de que os guerrilheiros do Araguaia estavam essencialmente tomados por sonhos, movidos pela esperança de construção de um país justo e igualitário, seguindo o imaginário revolucionário daquele tempo, as décadas de 1960 e 1970”, escreve ele (página 31). [2]
Em 1962, Mao Tse-tung recebe João Amazonas e Lincoln Oest (PCdoB)
Pedro Pomar PCdoB. Quando a guerrilha liderada por Fidel Castro triunfou em Cuba, em 1º de janeiro de 1959, ele foi saudar a vitória e ver a experiência de perto. Esteve no país por duas semanas e meia e voltou entusiasmado. Segundo ele, tudo que dizia respeito à Revolução Cubana, a seus problemas e dificuldades, em uma palavra, ao seu destino, interessava profundamente às forças populares e patrióticas do Brasil. Demonstrava a pujança e o crescimento da luta libertadora e democrática na América Latina. Para Pedro Pomar, o exemplo da Revolução Cubana alentava a luta que os comunistas travavam pela emancipação nacional e social do povo brasileiro. A vitória do povo cubano era parte integrante daquela luta dos brasileiros e, como tal, precisava ser defendida.[3]
Compreender as condições que levaram o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) a dirigir seus militantes a uma região inóspita e remota em busca da "libertação nacional" ou do "sonho do socialismo". É necessário buscar entendimentos em torno de uma questão importante que foi "ofuscada" pelo protagonismo da resistência urbana, caracterizada pela "Ação Nacional de Libertação" (ALN), na figura de Carlos Marighela e entre outras organizações que tinham o mesmo objetivo, mas que por ideologias divergentes ou discordâncias, buscavam caminhos diferentes. O PCdoB não se atentaram em notar que iriam ficar isolados, pois as guerrilhas urbanas estavam em declínio e quase extintas: “Por volta de 1971, às organizações de confronto violento com a ditadura entraram na fase terminal de extinção...”. (GORENDER, 1987, p.14). A ditadura militar (1964-1985) foi o período vivenciado pelos brasileiros, muitas mortes, chacinas, encarceramento, tortura e privação total e parcial da liberdade, isso caracteriza o período de 21 anos, resistido à custa de muitas perdas. O recorte histórico que compreende o início dos combates da guerrilha do Araguaia vai de meados de 1966 a 1967, quando chegam os primeiro militantes na região do Araguaia, data o primeiro combate impetrado pelo exército em 1972 e tendo como final nos anos 1975 conforme destaca Gorender em “Combate nas trevas” (1987, Cap. 29). [4]
Versão pelos militares: As roças dos guerrilheiros passam a ser mais difíceis, e muda-se o hábito para a
caça (GRABOIS, 1973).
As Ligas Camponesas passam a preparar seus quadros em Cuba, depois que o
líder cubano conversa com o deputado brasileiro Francisco Julião, em 1961, que até então
defendia uma reforma agrária convencional. Em 1962, o MRT-movimento revolucionário de trabalhadores articula suas
primeiras áreas de treinamento de guerrilha.
Em 1962, com o movimento comunista dividido, Luís Carlos Prestes, defensor
do revisionismo e da “transição pacífica” de Kruschev, fica com a sigla PCB –
Partido Comunista Brasileiro, e os que defendiam a luta armada, como João
Amazonas, adotam a sigla PCdoB – Partido Comunista do Brasil.
O PCdoB seguia os ditames da III Internacional Comunista, do viés da
Esquerda Revolucionária, dentro do modelo chinês2 3
e cubano,
com alinhamento
de tomada do poder pela luta armada (guerra popular4 prolongada)5
. Na mesma
linha operaram as organizações comunistas do Partido Revolucionário Comunista
(PCR), o Partido Brasileiro Revolucionário (PCBR), o Movimento Comunista
Revolucionário (MCR) e a Aliança para Libertação de Proletariado (ALP).
O PCdoB não participou das ações nas cidades, da guerrilha urbana. Nessa
ocasião, apenas faz campanha ideológica de recrutamento e mobilização para a
guerrilha.
O PCdoB institui a “Guerrilha do Araguaia” que acabou por ser um conjunto
de várias ações deliberadas por um grupo formado, em sua maioria, por jovens
estudantes universitários, e ainda operários, profissionais liberais e políticos
orgânicos de cunho ideológico, cujo objetivo era instaurar um novo sistema
sociopolítico no país, ou seja, o socialismo.
Segundo Iomar Galego, habitante local (Hab Loc) da área conflituosa, “a
guerrilha não trouxe nada de bom para os moradores da região. Ao contrário”
(STUDART, 2018, p.529).
- Com base no relato de testemunhas à Comissão Estadual da Verdade (CEV), que apontam que corpos de desaparecidos políticos durante a Guerrilha do Araguaia (ocorrida, desde sua preparação até o fim do combates, entre as décadas de 1960 e 1970), foram enterrados na vila de Clevelândia do Norte, em Oiapoque, no Amapá, o Ministério Público Federal (MPF) requisitou providências ao governo do estado para realizar as buscas no local.
Entre os trabalhadores que
chegaram ao Araguaia na década de 70, uma parcela significativa ia em
busca de trabalho nos grandes projetos como a construção de rodovias que
se estendeu a toda a região amazônica. Esses trabalhadores integraram um
movimento migratório incentivado pelos governos militares, visando a
construção de infraestrutura na região, ao mesmo tempo em que aliviavam
a tensão dos conflitos em algumas áreas do nordeste. Empregaram-se no
trabalho de construção de rodovias como a Transamazônica, a Perimetral
Norte, Cuiabá-Santarém, Manaus-Fronteira com a Venezuela, entre outras
dezenas de rodovias construídas a partir dos anos 70 (MECHI, 2013, p.168).
A primeira campanha
Abril/ 1972
A 12, inicia, oficialmente, a primeira campanha de combate aos guerrilheiros. São
instituídas ações de controle da população, entre elas o toque de recolher, às 18 horas (CAMPOS FILHO, 2018, p.236). Fundamentalmente, foram instaladas
duas bases de combate de valor batalhão, uma em Marabá e a outra em Xambioá.
No interior da área de operações foram instaladas seis bases de combate de valor
subunidade (PINHEIRO, 2005).
Julho/ 2011
A 27, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos visita Xambioá e
acompanha escavações de desaparecidos na guerrilha no cemitério da cidade.
Agosto/ 2011
A 11, o jornal A Folha de São Paulo publica que o Coronel R1 Walter da Silva
Monteiro, localizado em Belém, teria sido médico militar no Araguaia e teria
aplicado injeções letais em guerrilheiros (AMORIM, 2014, p.183).
Junho/ 2012
A 14, o jornal A Folha de São Paulo publicou matéria com o título “Exército diz
não ter papéis sobre o Araguaia” (AMORIM, 2014, p.220). A senadora Kátia Abreu conseguiu recursos extra orçamentários do
Ministério dos Esportes para construção de um ginásio de esportes em
homenagem a guerrilha do Araguaia a ser construído na cidade de Xambioá
Março/ 2019
A 18, o MPF/Marabá-Pará apresentou denúncia contra Sebastião Rodrigues de
Moura – conhecido como Major Curió – pelo homicídio qualificado e ocultação
dos cadáveres de dois militantes do PCdoB em 1974 (Matheus LEITÃO, blog/G1,
publicado em 19/03/2019).
(Governo militar de Bolsonaro): Fevereiro/ 2020
A Comissão de Anistia rejeitou 307 pedidos de anistia, protocolados entre
2004 e 2018, feitos por camponeses que alegavam ter sido alvo de perseguição
política durante a guerrilha do Araguaia. (Leandro Prazeres, jornal O Globo,
18/02/2020). [1]
NOTAS:
1.https://luizberto.com/wp-content/uploads/2020/04/Araguaia-a-guerrilha-dia-a-dia-min.pdf
2.https://www.grabois.org.br/portal/artigos/154529/2018-07-27/guerrilha-do-araguaia-borboletas-lobisomens-e-inverdades
3. https://www.grabois.org.br/portal/artigos/141048/2012-03-20/o-pcdob-e-o-caminho-da-luta-armada
4. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-guerrilha-araguaia-luta-armada-no-campo-suas-consequencias-historicas.htm