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sábado, 21 de agosto de 2010

Hannah Arendt sempre recusou o título de filósofa.

Hannah Arendt - Política

Hannah Arendt foi uma teórica política alemã, uma das principais pensadoras do século 20 que sempre recusou o título de filósofa.Hannah Arendt nasceu em 14 de Outubro de 1906, em Hanôver, Prússia. Pertencente a uma família judia, não recebeu educação religiosa da tradição, profeçou sua fé em deus de maneira livre. Hannah passou a vida a compreender o destino do povo judeu perseguido por Hitler. Formulou o célebre conceito da banalidade do mal. Estudou teologia e filosofia com Martin Heidegger, foi aluna de Jasper e admiradora da obra de Kiekegaard.



Toda a obra de Hannah Arendt é um diálogo com os dilemas morais e políticos do século 20, onde analisa o indíviduo e sua relação com o poder. Seu foco de estudo foi o fenômeno do pensamento e da maneira que ele atua dentro de diferentes contextos históricos obscuros. O trabalho filósofico de Hannah Arendt aborda temas como, política, educação, violência, condição da mulher, os direitos individuais, a família, a sociedade de massa; tudo em nome da liberdade.

Livros Escritos por Hannah Arendt e abordagens Políticas:

"Origem do Totalitarismo"

O primeiro livro escrito por Hannah Arendt foi "Origens do Totalitarismo", escrito em 1951. O livro fala da semelhança entre nazismo e comunismo, tratando as duas ideologias como totalitárias que sobreviveram dada a banalização do terror, da manipulação política das massas. Hitler e Stalin são colocados como sendo as duas faces da mesma moeda, que alcançaram o poder por terem explorado a solidão organizada das massas. Nesse livro, Hannah mostra a importância de se voltar ao passado para poder compreender o presente. Quando a autora fala, voltar ao passado, não significa dizer para a tradição.

"A Condição Humana", de Hannah Arendt

No segundo livro, "A Condição Humana", Arendt alerta: A condição humana não é a mesma coisa que a natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem faz parte. Nesse sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros tornando-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras:

- Pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento.

- A segunda maneira, pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família; são os elementos externos do condicionamento.


"Sobre Revolução"

O terceiro livro de Hannah Arendt, "Sobre Revolução", escrito em 1963, é um tributo ao pensamento liberal contemporâneo. Onde Hannah faz um paralelo entre a Revolução Francesa e a Revolução Americana, mostrando as semelhanças e diferenças. Defende a tese de que a preservação da liberdade só é possível se as intituições pós-revolucionárias interiorizarem e mantiverem vivas as ideias revolucionárias.

"Eichmann em Jerusalém"

Escrito também em 1963, o livro, "Eichmann em Jerusalém" é um livro que gerou uma enorme polêmica e críticas violentas. O livro revela que o grande exterminador dos judeus, Adolf Eichmann, não era um demônio, mas alguém terrível e terrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitava a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou ter contrição. Defender essa tese, lhe custou caro, organizações judaícas acusaram Hannah Arendt de falsa e traídora. No livro Hannah chamava a atenção para a complexidade humana, para uma certa banalidade do mal que surge quando se condescede com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. E conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.


Pensamentos de Hannah Arendt sobre Educação

Hannah Arendt ao abordar o tema educação, fez crítica a educação moderna. Hannah defendeu o conservadorismo na educação, mas não na política. Para a pensadora, o maior erro da educação foi ter colocado em prática " o absurdo tratamento das crianças como uma minoria oprimida carente de libertação". Arendt defendia a tese de que cabe aos adultos a condução das crianças.

Para Hannah Arendt, " A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver". Era a favor da autoridade na sala de aula, mas sem autoritarismo, o mundo deveria, segundo seu pensamento, ser apresentado ao aluno de maneira a estimular a mudá-lo.
Dessa maneira, Arendt defendia que os pais deveriam ser os responsáveis pelo bem estar vital de seus filhos e a escola, a responsabilidade de desenvolver as qualidades e talentos pessoais.
"Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças e é preciso proibi-la de tomar parte na educação", escreve Arendt.

Mais Livros de Hannah Arendt:

*On Revolution
*A promessa política
*Responsabilidade e juízo


Frases de Hannah Arendt

"Só a bondade deve esconder-se de modo absoluto e evitar qualquer publicidade, pois do contrário é destruída".

"A pobreza força o homem livre a agir como escravo".

"Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças e é preciso proibi-la de tomar parte na educação".

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

“Tem a Política ainda algum sentido?”

Postado em: 19-08-2010 | Por: Leila Brito | Espaço Literário Chá.comLetras

Hannaharendt_1
Hannah Arendt (1906 – 1975)
Hannah Arendt, ou Johannah na certidão de nascimento, nasce no dia 14 de outubro de 1906 em casa, na cidade de Linden (Hanover), Alemanha. Desde pequena demostra ter uma capacidade intelectual extraordinária. Martha Arendt, sua mãe, deixa registrado no diário Nosso Bebê a evolução do seu desenvolvimento, e nele descreve Hannah como uma criança precoce em tudo. Aos dois anos já fala, e quando entra para a escola já sabe ler e escrever. Martha trabalha num jardim de infância onde novas teses sobre Educação são postas em prática, após ter estudado três anos na França onde aprendeu línguas e música.
Max Arendt, avô de Hannah, é o responsável por apresentar a religião judaica à neta, mas não de forma tradicional, no sentido frequentar a Sinagoga, e sim, de integrar seu modo de vida. Uma relação que dura até o ano de 1913, pois tanto ele como Paul, pai de Hannah, morrem nessa época. Em ambos falecimentos, ela passa a questionar muito mais o sentido da morte do que propriamente a manifestar a dor da perda dos entes queridos, demonstrando para sua mãe que é forte. Martha se preocupa, pois com tal comportamento, Hannah parece não sofrer com a morte do pai. A partir de então, a filha tenta tomar conta da mãe ao mesmo tempo em lhe faz as perguntas que, mais tarde, a levariam para a Filosofia.
A relação de Hannah com sua mãe é tão forte que, mesmo aos quarenta anos, ela ainda busca seu conforto e auxílio nos momentos de dúvida. Entre 1913 e 1916, as idas e vindas entre as cidades de Könisberg e Berlin são frequentes em razão da guerra. Martha frequenta o círculo de seguidores de Rosa Luxemburgo, mulher que terá o apreço de Hannah, tanto por seus ideais como pela sua vida e pelo que busca alcançar (em Homens em Tempos Sombrios, Arendt se entrega a reflexões sobre a força revolucionária de Rosa Luxembrugo). Desta forma, Martha leva Hannah para o círculo dos revolucionários, transformando seu próprio apartamento em local de encontro, e a filha leva para sua vida as questões discutidas nessas reuniões. É um tempo em que palavras como revolução, reforma, democracia, socialismo ganham força na esfera política. Em 1919, após o assassinato de Rosa Luxemburgo, a situação muda, tanto no panorama político quanto na vida de Hannah.
Assim, em se tratando da vida de Hannah Arendt, há que se chamar a atenção para os aspectos relevantes herdados da família como a influência judaica do avô e a natureza política e, até certo ponto, revolucionária de sua mãe. E do pai, a motivação para a leitura, permitindo que ela lesse os clássicos de sua biblioteca. Hannah dirá na entrevista a Günter Gaus que, por toda sua vida, terá essa dívida com o pai (QUEVEDO, 2009).
Formada pelas universidades de Koniberg, Malburg, Freiburg e Heidelberg, Hannah Arendt é influenciada por Husserl, Heidegger e Yaspers. Em consequência das perseguições nazis, em 1941, parte para os Estados Unidos da América, onde leciona nas principais universidades do país (Columbia, Califórnia, Cornell, Princeton e Wesleyan) e escreve grande parte de sua obra.
Pautando sua filosofia numa crítica à sociedade de massas e à sua tendência para atomizar os indivíduos, a filósofa preconiza o regresso a uma concepção política separada da esfera econômica, tendo como modelo de inspiração a pólis grega. Assim, em sua densa e profunda obra filosófica, Hannah Arendt questiona o sentido da política, buscando responder às perguntas:
Após Dachau, Auschwitz, os Gulags siberianos, em síntese, depois das experiências totalitárias nazista e stalinista, qual o significado da política? Partindo de uma constatação arendtiana de que ação política é sinônimo de liberdade, será que podemos admitir como “política” programas de desumanização, de eugenia, isto é, de objetivação do homem? Será que a “política totalitária” (ARENDT, 1990, p.514), responsável pela transformação da própria natureza humana, por tornar possível o mal radical, absoluto e imperdoável, não ocultaria, em realidade, ações não-políticas, até mesmo antipolíticas? Não há contradição no próprio termo “política totalitária”? Por outro lado, será que a “politização” plena realizada por tais regimes totalitários e a concomitante e paradoxal extinção do espaço de liberdade necessariamente nos conduz a dar razão aos liberais, a entender como incompatíveis liberdade e política, só surgindo a primeira quando a última cessa de existir? Em outros termos, será que a política se restringe ao estatal e a liberdade possui somente uma dimensão negativa, uma liberdade a-política de “ter”, de “crer”, enfim, uma “liberdade da política” (ARENDT, 2001, p.195)? Tais indagações nos levam, com Arendt, a formular a seguinte questão: “Tem a Política ainda algum sentido?” (ARENDT, 2006, p.38). O que de fato é a política? (TORRES, 2007, p. 235-236).
Antecipando um ensaio focado em Hannah Arendt, e objetivando propiciar aos leitores do Chá.com Letras o acesso a uma das mais importantes personalidades da Filosofia Política contemporânea, disponibilizo o vídeo da Parte I da entrevista concedida pela filósofa, em 1964, ao jornalista alemão Günter Gaus. Na sequência, serão postadas as partes II e III.
LEILA BRITO
Belo Horizonte, 19 AGO 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

O homem apaixonado também transmite força, alegria, energia












Mistérios Gozosos
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA


Uma coisa especial ocorre com a mulher depois que ama. Reparem, estou dizendo: depois que ama. Não estou me referindo a ela enquanto está no ato do amor. Disto se pode falar também, e a literatura a partir do romantismo e depois o cinema, modernamente, já tentaram de várias formas simular na relação amorosa como a mulher suspira, se contorce, desliza as mãos e entreabre a boca do corpo e da alma.

Mas, quando digo "depois que ama", refiro-me ao estado de graça que a envolve após o gozo ou gozos, e que perdura horas e horas e às vezes dias. Fica macia que nem gata aos pés do dono. Mais que gata, uma pantera doce e íntima. Sua alma fica lisinha, sem qualquer ruga. A vida não transcorre mais a contrapelo, desliza... Ela tem vontade de conversar com as flores, com os pássaros, com o vento. Sobretudo, descobre outro ritmo em sua carne. É tempo do adágio, de calma e fruição. Neste período, aliás, o tempo pára. Em estado de graça ela se desinteressa do calendário. O quotidiano já não a oprime. É a hora de uma ociosidade amorosa. O fato é que a mulher nessa atmosfera sai do trivial, se agiliza e glorificada, pervaga pela casa.

O homem, animal desatento, às vezes não se dá conta. Em geral, nunca se dá conta. Ou dá-se conta nos primeiros minutos após o ato de amor, e depois se deixa levar pela trivialidade, deixando-a solitária em sua felicidade clandestina. Na verdade, ela sobrepaira ao tempo, está adejando em torno do amado, que deveria suspender tudo para sentir desenhar-se em torno de si esse balé de ternura. Deveria o homem avisar ao escritório: hoje não posso ir, estou assistindo à reverberação do amor naquela que amo.

E como isto se assemelha à floração rara de certas plantas, os amados deveriam interromper tudo: seus negócios e almoços e ficarem ali, prostrados, diante da que celebra nela o que ele ajudou a deslanchar. Já vi algumas mulheres assim. Era capaz de pressentir a 115m que elas estavam levitando de tanto amor que seus amados nelas desataram.

Há uma coisa grave na mulher que foi ao clímax de si mesma. Que não esteja distraído o parceiro ou parceira. Ela tem mesmo um perfume diverso das demais. É um cio diferente. É quando a mulher descerra em si o que tem de visceralmente fêmea, tranquila que, mais que possuída, possui algo que atingiu raramente. As outras mulheres percebem isto e a invejam. Os machos farejam e se perturbam.

É como se estivessem num patamar seguro a se contemplar. É quase parecido a quando a mulher vive a maternidade. Mas aqui é ainda diferente, porque na maternidade existe algo concreto se movimentando dentro dela. Contudo, nessa atmosfera que se segue a uma epifânica sessão de amor, diverso, porque ela está acariciando uma imponderável felicidade.

Estou falando de uma coisa que os homens não experimentam assim. O gozo masculino é mais pontual e parece se exaurir pouco depois do próprio ato. Só os escolhidos, os de alma feminina, vez por outra, o sentem prolongar-se dentro de si. Mas em geral, é diferente. Terminado o ato, uns até rolam para o lado e dormem como se tivessem tirado um fardo do ombro, outros acendem o cigarro, vestem suas ansiedades e voltam ao trabalho.
É constatável, no entanto, que o homem apaixonado também transmite força, alegria, energia. Ele oscila entre Alexandre O Grande e o artista que chegou ao sucesso! Também brilha. Mas é diferente. E não é disto que estou falando, senão do gozo feminino que não se esgota no gozo e se derrama em gestos e atenções por horas e dias a fio.

Freud andou várias vezes errando sobre as mulheres e, por exemplo, colocou equivocadamente aquela questão de que a mulher teria inveja do homem por ser este um animal fálico. Convenhamos: inveja têm (ou deveriam ter) os homens quando prestam atenção no fenômeno que ocorre com as mulheres, que ao serem amadas atingem o luminoso êxtase de si mesmas, como se tivessem rompido uma escala de medição trivial para lá da barreira dos gemidos e amorosos alaridos.

É isso: quando a mulher foi amada e bem amada, ela ingressa nessa atmosfera sagrada, cuja descrição se aproxima daquilo que as santas estáticas descreveram. Uma aura de mistérios as envolve. E isso, por não ser muito trivial, por não ser nada profano, talvez se assemelhe aos mistérios gozosos de que muitos místicos falaram.                                                                                                                                                                             Chá. Com Letras                                                                                                                                                                               Leila Brito